Fernando Cárdenas *
Publicado em setembro/2011
Publicado em setembro/2011
Logo após a reintrodução do Aedes Aegypti no Brasil, no início dos anos 70, os casos de dengue espalharam-se. Aspectos econômicos, climáticos, ambientais, sociais e culturais favoreceram a disseminação do mosquito e o adoecimento da população.
O perfil epidemiológico mudou ao longo do tempo. A doença, antes associada à pobreza e à falta de infraestrutura básica, expandiu-se pelos centros urbanos, atingindo todas as classes sociais.
Em Piracicaba, o quadro não foi diferente. Nas, a situação tem sido controlada. Somente em 2007 tivemos um momento complicado. Apesar de todos os esforços, notificamos 5.681 casos da doença.
Em Piracicaba, o quadro não foi diferente. Nas, a situação tem sido controlada. Somente em 2007 tivemos um momento complicado. Apesar de todos os esforços, notificamos 5.681 casos da doença.
Foram registrados apenas 53 casos em 2008, 20 em 2009 e 621 em 2010. Este ano, até o início deste mês, foram notificados 1.335 casos, sendo 607 descartados e 607 positivos. Desse total, 635 são autóctones (contraídos dentro do próprio município), 9 importados e outros 4 de piracicabanos não residentes na cidade.
Todos os casos foram monitorados, e os vetores, controlados. Reformulamos a estratégia de atuação, após avaliação do comportamento e distribuição da doença desde 92, quando foram registrados os primeiros casos na cidade.
O planejamento para enfrentar a dengue tem seguido a lógica do comportamento dos casos e do risco em cada bairro, representado em um mapa, com cores distintas, dependendo dos índices de gravidade registrados.
As atividades de controle em 2011 foram iniciadas em meados de setembro do ano passado. Dentre as áreas críticas, sinalizadas com a cor vermelha no mapa de monitoramento, destacamos Novo Horizonte, Vila Cristina, Vila Sônia e Bosques do Lenheiro. Houve a preocupação também com as áreas centrais da cidade, onde, nos últimos anos, o número de casos aumentou.
Nas áreas de maior risco foram realizados 12 arrastões para retirada de inservíveis (potenciais criadouros do mosquito), o equivalente a 270 mil quilos de materiais só das residências, onde predominam os criadouros. O que exigiu a atuação de aproximadamente 300 pessoas, por sábado, entre técnicos, motoristas e braçais.
Além dos arrastões, foram realizadas visitas domiciliares por enfermeiros e técnicos de enfermagem, que se estenderam aos corredores comerciais da cidade, com o objetivo de chegar aos imóveis de famílias que não conseguimos contatar durante as atividades de rotina.
De acordo com o resultado do levantamento para medir a infestação, percebemos que os principais criadouros do mosquito são, predominantemente, os pratinhos com água das plantas e materiais recicláveis. Isso significa que a luta contra a dengue precisa começar dentro de casa.
Do ponto de vista do atendimento, vários fatores tornaram-se motivo de preocupação, como os riscos da dengue hemorrágica, possibilidade de óbitos por dengue, além da entrada do vírus tipo 4, que não circulava pelo Brasil há alguns anos, e que poderia atingir grande parcela da população que não teve contato com esse subtipo.
Como o previsto, ocorreram casos de dengue pelo sorotipo 4 no Estado de São Paulo. Foram 18 confirmados, concentrados nos municípios de São José do Rio Preto, Paulo de Faria e Catanduva. Todos apresentaram evolução benigna.
O planejamento para as atividades de 2012 já foi iniciado, com o mapeamento das principais áreas de infestação, e já identificamos tendência de risco na região dos bairros Centro, Nova Piracicaba e Bairro Alto, consideradas áreas nobres da cidade.
O curioso é que pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde indica que a população se diz bem informada sobre o processo de contágio (mais de 90%), porém banaliza a doença, encarando-a como sendo de baixo risco e predominante nos segmentos menos abastados da população, o que não é a verdade.
O que falta, portanto, é o esforço coletivo para colocarmos em prática as informações corretas, que garantam o combate aos criadouros, sem a falsa ideia de que a dengue escolhe suas vítimas. Só assim evitaremos novas epidemias.
Fernando Cárdenas é secretário de Saúde de Piracicaba
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